O Gonçalo Mata num Curso de Condução da MotoXplorers

5/22/2009 / 11:34 /

Gonçalo Mata, o homem que concluiu com sucesso o projecto BuenaYork percorrendo 15 países e mais de 40.000 km desde Buenos Aires até New York, participou no Curso de Condução do 2 e 3 de Maio passado. Estas são as suas impressões dessa experiência:

“Teria sido um BuenaYork diferente!”

No passado fim-de-semana fui ao Alentejo. À vinda, acreditem ou não, a mota pesava menos! Não, não perdi parte do chassis, não me esqueci de bagagem. Tudo se deveu à surpreendente experiência que vivi ao aceitar o convite da Motoxplorers para participar na sua 2ª edição do Curso de Condução Off Road. Altamente recomendável!

Há muitas razões potenciais para querermos saber conduzir a nossa big trail fora do alcatrão. Algumas delas são puramente inevitáveis: desde um passeio de estrada ao Alentejo a uma volta maior em plena Europa, há sempre à espreita um acesso ao restaurante em gravilha ou uma recepção lamacenta à entrada do parque natural. São alturas em que sentimos na pele o desconforto de ter nas mãos 200 kg ou mais, fora bagagem e eventual pendura. Superável, mas desagradável. Outras, são motivações de fascínio e aventura: um pequeno troço do Sahara, a Ruta 40 a caminho da Patagónia, ou uma simples ligação florestal nos Alpes.

Se lamenta as primeiras e considera as últimas inalcançáveis para o seu paquiderme, esqueça tudo o que sabe sobre o assunto. O Curso de Condução Off Road da Motoxplorers vai estabelecer um novo patamar de percepção sobre a sua mota, e eu resumo-o numa palavra: “OBRIGATÓRIO”!

Antes deste curso alimentava a ideia de que, mais para a esquerda ou mais para a direita, se treinasse o bastante haveria de conseguir conduzir a minha GS por maus caminhos. Nas viagens que fiz, especialmente nos 40.000 km do BuenaYork em que atravessei as Américas, mas também nas várias aventuras no Norte de África ou mesmo pela Europa, não houve uma em que não fosse obrigado a "praticar" condução off-road. Confesso que quase unicamente motivado pela obrigação de ver o que havia para ver, acompanhado por boa dose de sofrimento psicológico. Meio contrariado, é certo, mas lá fui fazendo muitos kms fora de estrada, como sabia e podia

Essa história de que as big-trails actuais são o estado-da-arte em termos de ciclística, distribuição gravítica e o diabo a quatro, permitindo performances fenomenais em estrada e controlo surpreendente fora dela, tanto que nem parecem pesar o que pesam, apesar de custarem o que custam, essa história, dizia, sempre me ia ficando entalada na altura de enfiar o bicho gravilha dentro ou ribeiro fora (já nem falo da temível areia!). Pensava eu que era talvez por ser baixinho e magricela… ou se calhar não tinha mesmo jeito… O facto é que todos esses kms de treino não me resolveram a aselhice. Acho que até pelo contrário: acentuaram alguns maus vícios!

Hoje, depois do curso da Motoxplorers, e bem ressalvadas as honrosas excepções, estou confiante que esta é uma daquelas coisas que não se aprende intuitivamente, por mais cabeçadas no ecrã e caneladas nos cilindros. Não! Tem muitos truques contra-natura que simplesmente não surgem de per si. É preciso aprendê-los e apreendê-los: levar a que se nos incorporem em ambiente controlado, praticados repetidamente com sucesso, com a certeza de que são os acertados e não mais uma aleatória tentativa improvisada. Depois: voilá!, a magia acontece! A mota fica mais autónoma, o volante liberto, as curvas automatizam-se, a derrapagem surge controlada, enfim... subtilezas difíceis de descrever, mas com claros resultados. E digo-vos que não acontece apenas na condução off-road. Extravaza para o dia-a-dia, ao entrar e sair da mota, ao manobrar na garagem, em plena cidade por entre os carros, numa necessária subida de passeio, em rotundas e acessos de vias rápidas... Fica diferente o peso, a nossa posição relativa, a percepção da inércia da mota.

Bem, prudência nas generalizações, ok? Isto deu-se comigo! Nem todos teremos a mesma oportunidade de melhoria, muitos farão já muitas coisas bem feitas. Quanto a isso digamos que aparentemente eu era mesmo um grande aselha, porque o salto foi enorme! Principalmente aprendi a desaprender coisas erradas que sabia e a reaprender as certas. E sei que muitos vão sentir o mesmo, cada qual à sua escala.

Resumindo: equilíbrio, controlo geral do peso da mota, subidas, descidas, derrapagens e poder de travagem, regos, travessias de ribeiros, lama e algumas coisas mais, serão muitas as horas práticas que vos esperam num cenário cheio de bonitas trilhas naturais. Não me alongo na descrição da envolvência, porque o importante ali é mesmo andar de mota, mas não há dúvida que é um sítio encantador. A herdade transmite a inigualável tranquilidade alentejana, a piscina é deliciosa, a comida tem sabor autêntico e até a ideia do “almoço no campo” parece enquadrar-se "au point". Quanto a isso, estamos entendidos: é um fim-de-semana desanuviado que a mente agradece. Mas se estão a pensar em ir para lá descansar o corpo, esqueçam: na 2ª feira descobrirão que pernas e braços entraram a sério na brincadeira!

Como recomendações, as minhas dicas são: durma cedo, vai precisar da energia! Traga calções de banho. Beba muita água, o calor aperta. Não se preocupe com as possíveis quedas! Em primeiro lugar, os exercícios fazem-se a velocidades francamente baixas (alguns à velocidade mais baixa que conseguir!). Depois, mesmo que por hipótese se veja forçado a deixar tombar a mota, o mais provável é você ficar de pé e a menina não ter sequer uma mazela na cosmética para comprovar a sua história. Confesso que eu fui tão radical quanto pude, e depois da mangueirada, ninguém diria que a mota esteve num curso "off-road". Finalmente, se não se sentir confiante com algum exercício, é só passar para o seguinte, não chumba! Lembre-se que conta com instrutores mais que credenciados, muito experientes e incansáveis! Mantiveram feedbacks individuais e até adaptações personalizadas aos exercícios, quando necessário. Deram dicas importantes, ajudaram, orientaram, empurraram, exemplificaram e, claro, também ajudaram a levantar a mota sempre que foi preciso!

Haveria mais para dizer, mas sei que vão preferir descobrir. Finalizo este comentário recomendando este curso a todos os que querem dar um salto qualitativo na sua competência de condução, e aceder com outra confiança a um mundo divertido e cheio de potencial. Dou ainda os sinceros parabéns à Motoxplorers, que mesmo numa fase de arranque em que ainda estão a cultivar experiência com o setup e com a metodologia, já deram provas de terem estabelecido a fasquia bem alto! Fico à espera do nível II, com areia, e deixo-vos um pensamento inevitável: tivera eu feito este curso há dois anos, e teria sido um BuenaYork diferente!…
Pela nossa parte foi realmente satisfatório contar coa presença do Gonçalo, pelas muitas experiências que ele tem vivido assim como pela sua simpatia em todo momento.

O texto do Gonçalo assim como o de outros participantes que gostam de escrever sobre as sensações vividas num curso de condução são reunidas nesta página do nosso site.

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