A fronteira

2/15/2011 / 10:41 /

“Huit mil oughia. Ça va?” O Paolo Dalmaso puxa pelos neurónios não conclui nada, pede-me ajuda. Uma Oughia, moeda mauritana, vale aproximadamente 6 tostões. Os meus neurónios por sua vez vêm bem enferrujados nos últimos dias, só fazem contas a graus de latitude e a autonomias das motos por causa das gasolinas que transportamos no carro de apoio. Juntos lá calculámos erradamente 12 euros (são 26) e o Paolo dispara “Ça va!”. É agora o feliz proprietário de um bou-bou, o traje oficial dos mouros mauritanos. É um desafio para o vendedor arranjar um bou-bou para o metro e noventa e seis do Paolo. Vai ser um desafio para o Paolo arranjar uma utilidade para o bou-bou pois aquilo é tudo menos práctico. Os mouros passam a vida a compôr a vestimenta e uma das mãos está normalmente ocupada a segurar o traje.



Estávamos em Noakchott, Mauritânia, a 18° de latitude e hoje já estamos a 14°, muito perto de Dakar no Senegal. O que muda nesses 4° é quase mais do que o que mudou nos 16 anteriores. É a vantagem de viajar por terra. Desembarcar de um avião no meio desta confusão de cor seria engraçado. Mas não vale o mesmo que atravessar o deserto para o experimentar.





A Sul, a fronteira natural do Sahara é o rio Senegal. O deserto-deserto, o das dunas e áridas extensões infindas extingue-se no Sahel, a zona intermédia que apresenta já alguma vegetação a Sul de Noakshott. Mas o rio é uma fronteira claríssima. Tudo o que está do lado de lá é novo para nós. É a África Negra: colorida, ruidosa, cheia de vida. É por intuírmos isso que o tempo ao ralenti na fronteira humana, a da Mauritânia com o Senegal, parece esticar-se.



O Senegal complica cada vez mais a entrada de veículos. Essa circunstância implica algum tempo de atraso em Saint Louis, mas atrasarmo-nos aqui está longe de ser um sacrifício.



Nada tem um tempo muito certo para acontecer e nada nos garante que efectivamente aconteça. C’est l’Afrique!

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