Terra de ninguém

2/11/2011 / 15:24 /

No mapa é uma simples linha recta, traçada a 21°20’ N o que separa o Sahara Ocidental da República Islâmica da Mauritânia. A ocidente, a linha desce e reparte entre ambos a península de Nouahdibou.



Para nós há algo mais que uma linha geográfica a separar os dois territórios. Há Composeur de Passport, Police, Emigracion, Adouanne, Papier Verte, “Profession, Monsieur?”, há “Pas de cadeaux pour le chef?”... há também conversa fiada, sorrisos e cigarros. Esta marmelada repete-se simetricamente do lado oposto. Embora com um ar bastante mais pobre do lado Mauritano.



Entre as duas está a Terra de Ninguém. Um campo minado, sulcado de trilhos em todas as direcções. Minado com minas a sério (e estão lá as carcaças dos carros que as foram encontrando) e minado de guias oportunistas a vender o seu alegado conhecimento do trilho certo, o alegado seguro barato e o alegado privilégio no despacho das formalidades. Alcatrão, não há. Deste lado do Sahara, este pedaço de terra de ninguém continua a ser o único troço não asfaltado obrigatório entre Cape Town e o limite Norte de África.



A travessia bem sucedida da fronteira poderia fazer-nos sentir uns aventureiros bastante destemidos. Isto se de manhã não nos tivéssemos cruzado com este casal de americanos em bicicleta. Recycle the World. O David tem 53 anos e nos anos 70 já tinha pedalado uma volta ao mundo. Agora está dar outra voltinha dessas com a mulher, a Julie. Saíram em Abril de 2009. Pedalam uma média de 90 km por dia, vão com 37.000. Como andam a pedal, não tiveram problemas com filtros de combustível entupidos, nem com a importação/exportação dos veículos. Também não lhes custa parar para tirar fotos ou conversar uma meia hora. Estão visivelmente realizados “We’re so happy to be doing this” dizem quase em uníssono. Estamos os três no meio de uma recta com 3 quilómetros, à nossa volta não se vê mais nada senão o deserto e um risco de alcatrão a atravessá-lo. Heaven right here?



Todas as experiências são toda únicas. A nossa também nos deixa realizados. A chegada a Nouahdibou mostra já imensas diferenças para as cidades de Marrocos que deixámos a Norte.



Já estamos abaixo do paralelo 21° e hoje passámos uma linha de latitude importante: o Trópico de Cancer a 23°27’ N.

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